BC está de olho na inflação dos serviços, diz Campos Neto
Na avaliação do presidente do BC, há “um plano de fundo melhor” no quadro fiscal e “um ruído que está acontecendo mais no curto prazo”
Por Estevão Taiar, Valor
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (24) que a autoridade monetária está “olhando bastante de perto a inflação de serviços”. A declaração foi dada no Expert XP, promovido pela XP Investimentos.
Campos destacou que “tem se falado muito” sobre inflação, meta, núcleos de inflação e contaminação de inflação. “Temos sido o mais transparente possível”, disse. “Estamos olhando bastante perto a inflação de serviços.”
Já outros itens “que foram a preços altos” agora apresentam “uma acomodação”. O presidente do BC também chamou a atenção para o fato de “parte disso”, referindo-se à inflação, ser “global” – ligada a outros países. Mas ele ele reconheceu que o “tema hídrico se agravou muito no Brasil e deve continuar exercendo pressão nos próximos meses”.
Já as expectativas de mercado para a inflação no Brasil tiveram uma reprecificação para 2021 e “uma contaminação recente” para 2022. “Obviamente é uma preocupação”, disse. No caso de 2023, segundo ele, elas seguem ancoradas à meta.
A respeito das expectativas para 2022, Campos ainda afirmou que no Brasil elas estão, de maneira geral, próximas das expectativas de outros emergentes.
Segundo ele, a autoridade monetária “vai perseguir a meta” de inflação do horizonte relevante. Atualmente, o horizonte inclui os anos de 2022 e, em menor grau, 2023, cujas metas de inflação são de 3,5% e 3,25%, respectivamente. Campos destacou que os modelos e a forma de olhar a inflação do BC e do mercado “se assemelham muito”, principalmente quando é levado em consideração o Boletim Focus.
De acordo com ele, antes da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), houve “um pequeno descolamento entre o que o BC olha e o que o mercado olha”. Esse descolamento aparecia mesmo quando era levado em conta o patamar de juros “já precificado pelo mercado”.
Na opinião do Copom, o descolamento pode ser explicado por questões de modelagem em meio a incertezas “muito grandes”.
Esses problemas de modelagem apareciam em duas frentes: no hiato do produto, que é uma medida de ociosidade da economia, e na inércia inflacionária.
Mesmo assim, Campos afirmou que o BC está “passando uma mensagem bastante transparente de convergência à meta” e que a autoridade monetária tem instrumentos, que são suficientes, para levar a inflação à meta. “Plano de fundo melhor” no quadro fiscal O presidente do BC afirmou ainda que, “apesar de todo o ruído”, a figura fiscal “mais ampliada” mostra “alguma melhora”.
“Os números estão melhores do que a perspectiva, do que o mercado tem tomado como verdade”, disse Campos Neto.
Segundo o executivo, pesou na diminuição da relação entre a dívida bruta e o Produto Interno Bruto (PIB) o deflator do PIB, mas também houve “uma melhora não associada a isso”. “É importante olhar a trajetória [da dívida]”, disse.
O que acontece atualmente, na avaliação do presidente do BC, é “um plano de fundo melhor” no quadro fiscal e “um ruído que está acontecendo mais no curto prazo”. De acordo com Campos, o mercado associou mudanças propostas pelo governo federal nos precatórios, por exemplo, à intenção de expandir o Bolsa Família, o que causou o ruído.
Ele destacou positivamente o “discurso muito duro de compromisso com a disciplina fiscal” feito também nesta terça-feira (24) pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
A respeito das projeções menores de crescimento para a economia no ano que vem, o presidente do BC afirmou que “a primeira mensagem é que controle de expectativas [de inflação] e controle de preços é a variável mais fundamental” para a autoridade monetária.
Sobre política monetária, Campos destacou que o “Brasil está reagindo com uma subida maior de juros” do que os seus pares.
No caso do mercado de trabalho, a avaliação do BC é de que a população ocupada apresenta um comportamento mais próximo daquele visto nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que tem dados melhores, do que na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, que tem dados piores.
No evento da XP Investimenros, Campos também comemorou a aceleração da vacinação no Brasil, lembrando que a rejeição ao imunizante no país “é muito mais baixa” do que em outros países.
Além disso, afirmou que o BC está em contato com os bancos centrais da Itália e da Inglaterra “para desenhar o Pix internacional”.
Mercados mundiais otimistas com juros em baixa O presidente do BC também afirmou que os mercados mundiais estão “bastante” otimistas e enxergam “um ambiente de juros baixos por bastante tempo”. Mas pouco antes, ele lembrou que houve “um choque bastante razoável” de inflação no mundo desenvolvido, que atingiu tanto consumidores, quanto produtores, embora o impacto tenha sido maior para os produtores.
Sobre a recuperação da economia global, Campos destacou como “positivamente o ritmo de crescimento da China” e que a atividade nos “Estados Unidos está voltando”. Em vários emergentes, por sua vez, ele afirmou que há uma “convergência razoável” para um ritmo de crescimento “igual ou superior ao pré-pandemia”.
De qualquer jeito, “o que fica” após a pandemia “é uma dívida muito alta”, tanto nos emergentes quanto nos desenvolvidos. Ele ainda afirmou que o debate sobre “a inflação verde”, ligado a demandas por sustentabilidade, “vale ser mencionado”. Como exemplo citou o fechamento de minas de cobre.
Campos destacou ainda o aumento da inflação no mercado imobiliário dos Estados Unidos, que “é um item importante” para a trajetória de preços americana.
Para o presidente do BC, “o grande ponto” a ser observado no futuro é como a recuperação econômica mundial e a consequente elevação das taxas de juros nos países desenvolvidos podem “impactar países emergentes”.
Segundo Campos, há uma espécie de “bifurcação”, com dois cenários: o primeiro com um crescimento “mais saudável” da economia mundial; o segundo, “muito mais prejudicial”, com alguns bancos centrais “gerando processos inflacionários”. De acordo com ele, na visão do BC, o segundo cenário não é o cenário base.
O executivo também se mostrou mais cético com a hipótese de que rupturas em cadeias de fornecimento estejam causando choques de oferta na economia mundial. Segundo o presidente do BC, a elevação de preços de alguns produtos pode estar mais ligada a uma “mudança estrutural” na maneira como as pessoas consomem produtos e bens.
fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/08/24/bc-esta-de-olho-na-inflacao-dos-servicos-diz-campos-neto.ghtml acessado em 25/08/2021.